Ele devolveu um soldado atordoado aos russos. A Ucrânia chama isso de traição.

“Não acho que ele seja honesto ou altruísta e vou dizer isso na cara dele”, disse Samoylenko.

Mas na pequena comunidade judaica de Kherson, remanescente do que já foi um dos principais pilares da estrutura desta cidade, Karamalikov era amplamente respeitado. Antes do Holocausto, disse o rabino Wolff, Kherson tinha 26 templos. Agora resta apenas uma, a Sinagoga Chabad de Kherson, e o Sr. Karamalikov regularmente permitia que ela usasse o espaço de sua boate de graça.

“Ele nunca disse não”, disse o rabino Wolff.

Um encontro com ‘Alpha’

Karamalikov estava ocupado durante aquelas primeiras semanas caóticas da guerra, disse seu advogado – correndo por Kherson em seu Audi branco, checando as patrulhas da vizinhança, parando na sinagoga e transformando seus negócios em depósitos de ajuda de fato, onde distribuía caixas de suprimentos.

Isso o colocou cara a cara com oficiais russos, em particular um coronel que se vestia todo de preto e atendia pelo codinome Alpha. Karamalikov tinha pouca escolha, disse seu advogado. Tropas russas nervosas estavam espalhadas pela cidade e o Sr. Karamalikov precisava falar com comandantes russos como Alpha “para garantir que eles não atirariam em nenhum dos voluntários”.

Por volta das 22h do dia 15 de março, um encanador, um carpinteiro e o filho do carpinteiro estavam em um posto de controle quando viram a silhueta de alguém entrando e saindo das sombras. Uma voz então gritou: “Eu sou um de vocês!” e saiu o soldado russo, que havia confundido os guardas do bairro com outros russos.

Andriy Skvortsov, o filho do carpinteiro, disse que o soldado estava confuso e mal conseguia articular uma frase. Quando percebeu que os homens à sua frente eram ucranianos, ele pareceu extremamente assustado, disse Skvortsov. “Ele era infantil e indefeso”, disse Skvortsov. E ele estava fortemente armado.