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Morte, doença e desespero: A vida em Antáquia depois do terramoto

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Morte, doença e desespero: A vida em Antáquia depois do terramoto

O terramoto que atingiu a Turquia e a Síria a 6 de fevereiro foi um cataclismo de proporções sem precedentes e o pior dos últimos 100 anos.

A cidade turca de Antáquia, no sul do país, está entre as mais duramente atingidas. Foi outrora um importante centro comercial e a terceira maior cidade do Império Romano, então chamada Antioquia. Mas os devastadores terramotos não deixaram quase nada nesta cidade incólume.

Kasim Gündüz é um residente local. A sua família foi dilacerada pela catástrofe.

Kasim disse à Euronews que agora está à espera do que provavelmente serão os restos mortais da esposa. O corpo do filho foi recuperado dos escombros e está num saco de plástico nas proximidades. O seu mundo inteiro desapareceu.

“Tenho estado a ajudar. Tirei o cadáver da minha cunhada. A cabeça dela desapareceu”, explicou Mehmet Elmaci, residente de Antáquia. “O meu cunhado e a sua pequena filha ainda lá estão”.

Condições desesperantes

Antioquia foi fundada em 300 a.C. e já viu a sua quota-parte de desastres. Foi destruída e reconstruída muitas vezes durante os últimos séculos.

Mas quando a região foi atingida por um terramoto de magnitude 7,8, apanhou todos desprevenidos. Vários dias após a tragédia, a ajuda ainda chega lentamente.

Mehmet é um sobrevivente, mas diz que não se lembra como conseguiu sair dos escombros. Contou à Euronews que desde o terramoto teve de dormir no seu carro com a mulher e o filho de 7 meses.

Sem eletricidade, água ou saneamento, aqueles que sobreviveram ao terramoto estão em grande risco. Doenças infecciosas como a sarna e a cólera estão a espalhar-se rapidamente e as réplicas do terramoto ocorrem todos os dias.

Nas primeiras horas após o tremor de terra, as únicas mãos disponíveis para vasculhar os escombros eram as dos sobreviventes que estavam em choque, feridos, e que nunca tinham feito nada parecido antes.

Depois vieram os voluntários. Erdem, um construtor de Istambul, correu para Antáquia assim que soube dos tremores de terra: “Tentei fazer o que era preciso. Consegui tirar uma mãe para fora. Enquanto eu tentava alcançá-la no seu quarto, ao partir o armário, ela começou a gritar – ‘porque estás a partir as minhas coisas? Quem és tu?’ Ela gritou comigo”, conta.

Raiva dirigida a Ancara

O Presidente turco Recep Tayyip Erdoğan disse que nada poderia ter sido feito para preparar o país para uma tal tragédia. Mas nem todos em Antáquia concordam.

“No primeiro dia em que aqui viemos, queríamos perfurar mas nem sequer conseguimos encontrar um gerador ou um martelo pneumático. Não havia aqui nenhum nada nem ninguém”, explicou Ibrahim Halil, residente em Antáquia.

“No segundo dia, chegaram algumas máquinas. Estas pessoas disseram-me que agora não podem trabalhar porque precisam de uma ordem ‘de cima’. E eles esperaram por essa ordem. O trabalho não está organizado nem a ser feito corretamente. Nem uma única pessoa bem treinada veio aqui”, acrescenta.

Vários dias após o terramoto, as autoridades ainda não parecem ter a situação sob controlo – apesar de uma efusão de ajuda internacional.

Há desacordo sobre quem ou o que é o culpado do caos. Alguns dizem que se trata de clivagens internas, enquanto outros culpam a má governação.

“A situação da ajuda que chega tarde não é um ato de negligência. Porque aquelas escavadoras, camiões e máquinas vieram de outras províncias, levou algum tempo a trazê-los para cá. Mas agora  estão a fazer um excelente trabalho”, disse o residente local Cemal Gungor.

“A única razão pela qual os municípios locais não trabalharam bem é porque o seu poder tinha sido reduzido. Ninguém se podia mexer nem um centímetro sem permissão de cima”, disz outro residente.

A catástrofe colocou o sistema de governo centralizado de Erdoğan sob escrutínio renovado, dando à oposição um argumento poderoso para montar um desafio nas eleições presidenciais deste ano – uma votação que alguns aqui acreditam que Erdoğan pode tentar adiar se sentir que as suas hipóteses de ganhar um terceiro mandato estão comprometidas.

Corposamontoam-se

O cemitério principal de Antáquia oferece um vislumbre da magnitude da catástrofe. Não há espaço suficiente para enterrar os mortos, pelo que as autoridades abriram um local de valas comuns na periferia da cidade.

Os corpos não identificados têm amostras de ADN recolhidas dos mesmos para que as famílias possam, um dia, dar aos seus entes queridos uma despedida adequada.

A corrida para salvar os vivos continuou bem para além do que parece ser uma janela de oportunidade normal. Mas contra todas as probabilidades, os sobreviventes têm continuado a aparecer.

Um desses sobreviventes foi Fatma, uma refugiada de 25 anos da Síria. Depois de escapar aos horrores da guerra no seu país natal, sobreviveu 140 horas debaixo dos escombros. Tem agora mais uma oportunidade – tal como esta cidade – de renascer.

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Redação

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