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Jovens moçambicanos insistem no "El Dorado" sul-africano para oferecer bicicletas à família

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Jovens moçambicanos insistem no "El Dorado" sul-africano para oferecer bicicletas à família

Machaze é uma das regiões mais pobres no centro de Moçambique e isso reforça o sonho de procurar uma vida melhor longe de casa.

Indicam as estatísticas possíveis na região que 40% dos homens do distrito de Machaze emigram. Muitos deixando as esposas, que visitam uma ou duas vezes por ano, a quem trazem prendas como vestidos ou bicicletas e bidões.

Os velocípedes e os contentores de plástico não são, à primeira vista, para quem vive longe de Machaze, bens muito ambicionados. Ainda menos por mulheres. Mas nesta região moçambicana são até luxos e diz-se mesmo que as mulheres nem aceitam casar-se se o pretendente não tiver ou não lhe oferecer uma bicicleta.

Já os bidões são essenciais para poderem abastecer-se de água para consumo doméstico ou para a agricultura que lhes permite subsistir enquanto os maridos trabalham longe.

O destino habitual dos homens de Machaze é a África do Sul, país vizinho no sudoeste de Moçambique e uma das economias mais fortes do corno de África. É uma viagem de 800 quilómetros de ida e que representa o sonho de muitos jovens moçambicanos de Machaze.

É o caso de Santos João, que sonha formar-se em Engenharia Elétrica e já executa alguns trabalhos para tentar financiar essa prioridade. Depois, vem a ideia de emigrar para a África do Sul.

“Com trabalhos que eu faço aqui em Moçambique posso ter um rendimento, mas não seria igual. O rendimento que espero ter na África do Sul… como dizem os que vem de lá, quem trabalhou com eletricidade, em algum momento sai mais vantajoso porque os trabalhos lá são mais promissores”, afirmou Santos João, em declarações à Agência Lusa.

O facto de haver muitas pessoas a viajar entre Machaze e a África do Sul proporcionou o estabelecimento de um terminal improvisado de transportes a ligar os dois pontos, possibilitando vários destinos sul-africanos com Joanesburgo, Pretoria, Cidade do Cabo ou Durban.

Ainda solteira, Fátima Machava, só admite emigrar, diz, se o futuro marido a levar: “Sonho de viajar e de ir para a África do Sul, não tenho. Só talvez se aparecer alguém a querer casar-se comigo. Assim posso ir para a África do Sul, sim.”

O governo regional de Machaze compreende as ambições dos jovens locais, mas tenta convence-los a ficar e a ajudar a economia local.

“Como membro governo, gostaria de apelar a todos os jovens residentes no nosso distrito de Machaze para abraçar o empreendedorismo. Principalmente o agronegócio e a agricultura. Nós somos potenciais agora para a produção do gergelim (sésamo). Na campanha passada muitos tiveram ganhos com esta produção. Também produzimos a castanha de caju”, afirmou a Administradora Distrital de Machaze.

Joana Guinda questiona os motivos pelos quais “os jovens não abraçam” estas oportunidades ligadas ao potencial agrícola de Machaze.

“O que temos demais é terra arável e, por isso, eu desaconselho mesmo os jovens a não fazerem isso (ir para a África do Sul). É melhor que desenvolvam o seu país”, insiste a representante do governo moçambicano em Machaze.

Os argumentos da governante não parecem, no entanto, alterar a tendência e na região continuam a aumentar as vivendas numa comunidade onde a poligamia é aceite.

As casas dos emigrantes na África do Sul vão crescendo em Machaze à medida que o respetivo número de esposas aumenta e esse é também um dos atrativos a puxar os jovens de Machaze para a África do Sul, mesmo sabendo da xenofobia sul-africana contra estrangeiros que muitos moçambicanos enfrentam.

Em 2008, por exemplo, houve uma série de ataques xenófobos noticiados pelo Diário de Notícias, em Portugal, e um ano depois ainda havia várias famílias a reivindicar os corpos em Machaze, onde o dinheiro para transladações não abunda.

Em 2021, Esperança Augusto John contava ao jornal moçambicano “Verdade” não saber se o marido ainda estava vivo “desde que foi para a África do Sul em 2013”. “Deixou-me com barriga de dois meses e hoje (outubro de 2021) o rapaz já tem oito anos. Quem sabe se (o meu marido) não foi queimado lá”, disse a mulher, com o jornal a ligar o caso, lê-se “aos ataques xenófobos que se multiplicaram nos últimos anos pela África do Sul.”

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Redação

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