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Política

P62 » Castro perdeu condição de liderar crise no RJ, diz membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública 

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P62 » Castro perdeu condição de liderar crise no RJ, diz membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública 

Ao site da Jovem Pan, Rafael Alcadipani, professor da FGV, diz que Estado um ‘caso internacional de fracasso’ no enfrentamento ao crime e critica ideia de interveno federal

PEDRO KIRILOS/ESTADO CONTEDO

nibus queimado na regio do Recreio, Rua Bem Vindo de Novaes , zona oeste da cidade

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A cidade do Rio de Janeiro viveu um episdio de terror na ltima segunda-feira, 23, em razo dos ataques ocorridos na zona oeste da capital fluminense, quando 35 veculos foram queimados, sendo 20 da operao municipal, cinco BRTs e outros dez de turismo e fretamento. Os ataques foram uma retaliao de um grupo criminoso aps a Polcia Civil matar o nmero 2 da principal milcia da cidade e sobrinho do miliciano Zinho. O caso ganhou as redes sociais e mobilizou autoridades e a opinio pblica, sendo considerado mais um episdio que escancara a crise de segurana pblica no Rio. Na anlise de Rafael Alcadipani, professor titular da FGV (Fundao Getlio Vargas) e membro do Frum Brasileiro de Segurana Pblica, tal demonstrao de fora das milcias indita: “Existem outros momentos em que isso aconteceu no Rio de Janeiro, mas era quando voc tinha a morte de traficantes. Traficantes eram mortos e o trfico ordena que aquela populao tome atitudes para demonstrar a insatisfao, que o que est acontecendo. “No caso, os milicianos esto querendo mostrar sua insatisfao. Ento, tem outros histricos. O que estamos vendo que os milicianos esto copiando uma estratgia, uma ttica utilizada pelos narcotraficantes”, explica o especialista em segurana pblica ao site da Jovem Pan.

A grandeza do ataque, alm de causar pnico na populao, forou a reao de autoridades a nvel municipal, estadual e federal. Em coletiva de imprensa aps o ocorrido, o governador Cludio Castro anunciou que prendeu 12 pessoas por colocarem fogo nos veculos e afirmou que o grupo vai responder por “atos terroristas”. Alm disso, o mandatrio tambm prometer no medir esforos para deter Zinho e outros dois grandes milicianos conhecidos como Abelha e Tandera, o que significa uma espcie de resgate da poltica de “inimigo pblico n 1”, popular no Estado desde os anos 90, como aponta Alcadipani. “No a primeira vez no Rio de Janeiro que se elegem inimigos pblicos nmero um. Tivemos o Fernandinho Beira-Mar e tantos outros que apareceram nessa situao”, explicou o professor da FGV. Ele ressalta, no enquanto, que a postura no contribui, de fato, para desarticular o poder do crime organizado:“O Rio de Janeiro um caso internacional de fracasso em relao ao enfrentamento ao crime organizado e na segurana pblica (…) Infelizmente, o governador Cludio Castro no tem uma postura firme o suficiente para fazer o trabalho que ele tem que fazer de coordenao da segurana pblica. E a minha avaliao que ele virou meio refm das instituies policiais do Estado”.

O especialista aponta que a conexo histrica de certos policiais com as milcias um empecilho para a atuao do Estado no combate o crime: “Tem muito policial srio, muito policial honesto e muito policial capacitado. Mas, infelizmente, muitos policiais esto relacionados com a milcia e ligados ao trfico. Precisa fazer um corte na prpria carne. Isso um problema histrico no Rio de Janeiro, essa corrupo policial”, acrescentou. Rafael Alcadipani pondera que um dos fatores que dificulta o estabelecimento de novas iniciativas para renovar as foras de segurana o de que, desde 2019, no existe mais na estrutura do Estado uma Secretaria de Segurana Pblica que seja responsvel pelo planejamento integrado das polcias. “E no vemos o governador fazendo nada. O que a gente v um loteamento de cargos para polticos. Um governador que perdeu a condio completa e total de liderar a segurana pblica no seu Estado”, critica.

Nesta semana, o governador do Rio de Janeiro participou de reunies em Braslia onde, entre outras agendas, solicitou ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco(PSD-MG), a criao de uma Comisso Parlamentar Mista de Inqurito (CPMI) para debater o endurecimento da legislao penal. Alm da criao da CPMI, o governador apresentou ao presidente da Cmara um conjunto de cinco propostas para a rea de segurana pblica, pautas sobretudo no fim da progresso de pena. Na anlise de Rafael Alcadipani, as propostas no ajudam a curto prazo e servem para Castro desviar o foco da sua gesto. “Castro tenta fazer uma cortina de fumaa para tirar a responsabilidade daquilo que lhe cabe. Isso so coisas que demorariam muito para serem feitas e querem jogar no Congresso uma responsabilidade que dele, da gesto cotidiana da segurana pblica do seu Estado, e que est destruda”, argumenta.

Interveno federal

Ainda que a situao demonstre uma incapacidade de Claudio Castro de atuar frente ao cenrio no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Incio Lula da Silva (PT) descartou a possibilidade de uma interveno federal no Estado. “No queremos lavar as mos. Vamos ver como podemos entrar e participar. No queremos pirotecnia. No queremos interveno no Rio, que no ajudou em nada. No queremos tirar autoridade do governador ou do prefeito. Queremos compartilhar uma sada”, disse o chefe do Executivo ao longo da semana. O professor Rafel Alcadipani concorda que a interveno nas foras de segurana, como feita em 2017, no o melhor caminho pois “gastou-se bilhes de reais e no teve uma resposta efetiva”. “Precisamos de uma poltica nacional de combate ao crime organizado. O crime organizado, ele t no Rio de Janeiro, mas ele no t s no Rio de Janeiro, ele t no Brasil todo. Precisamos ter uma coisa funcionando de uma forma lgica, uma articulao de esforos das diferentes entidades, das foras de segurana, para fazer esse enfrentamento (…) A mfia na Itlia existe h mais de 600 anos. Ela nunca foi derrotada, mas o poderio de fogo dela foi sendo diminudo por aes do Estado. isso que podemos fazer”, analisa.

Aps reunio entre Lula, os ministros da Defesa e da Justia e os comandantes das Foras Armadas, ficou acordado que o governo deve anunciar, na prxima semana, um pacote de medidas para reforar a segurana pblica do Rio. Entre as iniciativas, segundo o ministro Flvio Dino, h o fortalecimento de trs reas de competncia federal: os portos, os aeroportos e as fronteiras terrestres brasileiras. Para isso, militares e agentes federais devem ser alocados para fortalecer a segurana dos terminais do Estado. A respeito desta medida do governo federal, Alcadipani classifica o uso das Foras Armadas como uma soluo recorrente e pouco eficaz e sugere que a estratgia correta seria unir a Polcia Federal, a Polcia Rodoviria Federal e a Polcia Civil em uma fora-tarefa com o Ministrio Pblico e Judicirio. “Voc tem que ir para cima de uma forma estruturada e organizada. Que o comandante da polcia, que o governador, faa a sua funo, e que o governo federal tambm auxilie nessa troca de informaes. Agora, infelizmente, essa coisa das Foras Armadas no algo que tem resolvido o problema no Rio de Janeiro”, conclui.

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Redação

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