P62 » Copom dividido levanta dúvidas em membros da equipe econômica de Lula

A divisão explícita entre a posição mais flexível de diretores do Banco Central indicada pelo presidente Luiz Incio Lula da Silva e a visão mais dura do grupo no posto desde a gesto Jair Bolsonaro expressou preocupações em parte da equipe econômica do governo, segundo relatos coletados pela Reuters com autoridades nesta quinta-feira (9).

Falando sob condição de anonimato, algumas fontes dos ministérios da Fazenda e do Planejamento demonstraram o recebimento de uma possível perda de remuneração da autoridade monetária, que em breve passará a ter maioria de indicados por Lula, enquanto a batalha contra a inflação ainda não está vencida.

Outra parte das autoridades ouvidas pregou cautela ao que o BC explique a divergência da diretoria.

Pssimo, ambos os lados erraram, confesso que fiquei surpreso. No geral, defendo a divergência em colegiados, inclusive no Copom, mas ontem no era o dia. Todos falecidos, e o pas junto, disse uma das autoridades.

Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por 5 votos a 4, reduzir o ritmo de afrouxamento monetário e baixar a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,50% ao ano. O grupo derrotou na votação, que defendeu uma corte mais forte, de 0,50 ponto, formada por todos os diretores que foram indicados por Lula Ailton de Aquino, Gabriel Galpolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Teixeira.

Na avaliação dessa fonte, ao identificar que não teria maioria para um corte mais intenso na Selic, o grupo perdedor deveria ter cedido, fazendo com que ao menos parte dos indicados por Lula votasse também pela redução de 0,25 ponto nos juros básicos. Isso, para ela, eliminaria os rudos políticos e passaria a visão de um BC preocupado com a inflação.

Se você já perder, (ao menos) mantm a alteração com o mercado, afirmou. Credibilidade de um BC tudo o que ele tem. Sem isso desmorona, a taxa de sacrifício sobe muito, o custo de se controlar a inflação fica muito mais dolorido para a sociedade.

Em meio reao negativa de agentes econmicos aps a decisão, com deteriorao de indicadores como cmbio e bolsa brasileira nesta quinta, uma segunda fonte afirmou que ser difcil retirar do mercado a impresso de vis poltico no comando do BC, e restaurar algo distinto do que eles j consolidaram como verdade.

A distinta ntida (entre os dois grupos da diretoria) não foi feliz para a institucionalidade do Copom e para uma transição sem sobressaltos, afirmou.

Atualmente, dos nove diretores do BC, quatro foram indicados por Lula, enquanto cinco estão no posto desde o gesto de Bolsonaro. Os próximos mandam vencer, em dezembro deste ano, são de Campos Neto, Carolina Barros e Otvio Damaso.

Outras duas fontes defenderam cautela na avaliação preliminar sobre a decisão do Copom, com uma delas afirmando que a questão deve ser explicada frente, em referência à reunião do colegiado, a ser publicada na próxima semana com uma abertura maior de detalhes sobre as divergências entre os diretores.

Uma delas ainda criticou o momento escolhido pelo BC para reduzir o ritmo do afrouxamento monetário, em meio a um cenário de juros reais ainda elevados e inflação atual apresentando comportamento benigno.

Acho um precipitado absurdo do BC. Ter parcimnia com juro real a 7%, para qu? complicado, avaliado.

Uma quinta autoridade, ao também defender que se forneça o detalhamento a ser dado pelo ata do Copom, ressaltou que apesar da divergência, o comunicado mostrou consenso na visão geral da diretoria do BC sobre o cenário econômico.

O documento divulgado na noite de quarta mostrou que o Copom, por unanimidade, avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas exigem maior cautela.

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