Economia
P62 » Economistas destacam decisão dividida e recado duro do Copom sobre meta de inflação
Embora não fosse esperado uma decisão unnime como nas últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), o placar de 5 a 4 a favor de um corte de 0,25 ponto percentual anunciado hoje menos intenso do que as reduções de 0,50 pp nas últimas reuniões recebeu bastante atenção pelos economistas devido ao fato de que essa divisão pode significar sobre os próximos passos da autoridade monetária.
A razão é que todos os votos pela manuteno do ritmo vieram de diretores indicados pelo governo Lula, cabendo aso diretores remanescentes do antigo governo o papel mais duro (hawk) do encontro. Assim, houve uma preferência deles por juros mais baixos, que alguns interpretam como possível leniência em relação à inflação.
Alm disso, foi mencionado a mensagem final de que a política monetária a política monetária deve se manter contracionista e que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação. Essas afirmações deixaram claro que o BC não pretende colocar o trabalho já feito em risco, o que pode desagradar ala governamental do colegiado.
Em live da XP e do InfoMoney no Youtube, Caio Megale, economista chefe da XP, comentou que o Copom tinha sido claro na reunião passada de que nesta reunião de maio teria condições para um corte de 0,5 ponto percentual, mas que o cenário ficou diferente, especialmente porque mudou a expectativa de cortes na taxa de juros nos EUA, o que afetou a taxa de câmbio por aqui.
A taxa estava entre R$ 4,80 e R$ 4,90 e foi para R$ 5,30. Hoje, voltou para algo em torno de R$ 5,10, diz Megale, lembrando que as commodities também subiram e que a demanda interna se mostrou muito aquecida.
Assim, o próprio presidente do BC passou a alertar sobre a dificuldade de manter o ritmo pelas mudanças, uma linha seguida por outros diretores em suas comunicações recentes. Mas o diretor Gabriel Galpolo, por sua vez, alertou que não deveria se embaraar na volatilidade do prazo de curto prazo.
por isso que, no sentido de Megale, já nas sinalizações entre os Copoms era possível captar essas coisas diferentes, espelhadas na divisão de votos hoje. Isso é natural num ambiente do Banco Central independente. Tem decisões divididas nos Estados Unidos muitas vezes, no México e em outros passos, com diretores mostrando uma cabeça diferente, compara.
Também foi convidado da live, Fernando Ferreira, estrategista-chefe e chefe de pesquisa da XP, confirmado com a opinião de Megale, mas alertou que, do ponto de vista dos mercados, o dissenso deve embutir algum prêmio de risco no curto prazo, pela maior incerteza em relação à política monetária em 2025, quando o BC estiver sob novo gesto.
Cenário pior
Para Leonardo Costa, economista da ASAInvestments, o Copom mostrou um reconhecimento de um cenário inequivocamente pior do que na reunião de maro, com a atividade doméstica mais quente, um quadro externo pior por conta de inflação nos EUA e sem sinal de corte de juros – , além da desancoragem da expectativa doméstica.
A principal mudança foi o aumento da preocupação em relação ao mercado externo, com a política de juros nos Estados Unidos sendo a maior adversidade exposta na reunião de maio. A despeito de se manter equilibrado, o balanço de riscos indica aumento da incerteza na conjuntura internacional, comentou.
Costa citou que, nos projetos, o modelo do BC indicou um IPCA de 3,8% em 2024 (ante expectativa anterior de 3,5%) e 3,3% em 2025 (de 3,2%), portanto ambos os anos fora da meta de 3%.
Daqui veio uma mudança adicional no comunicado, que passou a considerar que a expectativa de inflação está desancorada, sendo que antes se referia como parcialmente desancorada, com destaque para o economista da ASA.
Sobre a divisão de votos, Costa avalia que melhor esperar pelo tom da ata da reunião na semana vem para tentar entender melhor onde está a divergência dentro do BC.
O cenário da ASA Investimentos de mais 3 cortes de 0,25%, com a taxa Selic terminal chegando a 9,75% ao final do ano.
Risco de leniência?
O economista da Rio Bravo, Luca Mercadante, analisa que o ambiente mais incerto no exterior e o cenário fiscal brasileiro fez com que o BC fosse contra a comunicação anterior e decidisse cortar menos os juros do que o sinalizado, embora isso já estivesse precificado pelo mercado.
Mais importante ainda é que as mudanças na comunicação, segundo ele, foram os votos divergentes do Copom. Pela segunda vez na história temos 4 votos divergentes no comit, sendo que os diretores divergentes foram todos os indicados pelo atual governo. A visão de que os novos diretores são mais lenientes com a política monetária pode gerar uma pressão para o juramento longo, dando ainda mais importância para a decisão do presidente, afirmou.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, lembra que aqueles que votaram a favor do corte de 50 pontos-base foram os membros mais novos do comit, que foram indicados pelo presidente Lula, incluindo Gabriel Galpolo, que visto como um possível sucessor de Campos Neto .
Essa divisão a na decisão de juros pode sinalizar que esse grupo de integrados, de diretores que foram indicados pelo presidente Lula, podem ter uma tendência maior a reduzir mais os juros, anunciados.
Roberto Padovani, economista chefe do Banco BV, por sua vez afirma que a decisão do BC faz sentido, uma vez que há um quadro de expansão fiscal e o mercado de trabalho pressionado pressionado a inflação, especialmente de serviços, o que desencoraja as expectativas. A gente esperava que essa cautela, no entanto, acontecesse a partir da próxima reunião, mas como houve uma oportunidade de mercado, o BC antecipou sua estratégia, explicou.
Mas uma outra leitura importante, segundo Padovani, que essa foi uma decisão dividida e os quatro diretores indicados pelo presidente da República votaram por um corte de 0,5 ponto. Isso, de certo modo, revela as preferências do próximo Banco Central.
Para Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital, o dissenso no Copom ruim, pois sinaliza que a próxima composição do BC, a partir de 2025, é mais pacífica. Outro destaque é que o comité afirma ter preocupação com o fiscal e que está acompanhando com ateno os desenvolvimentos recentes da política fiscal. Eles ressaltam, também, que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da vida contribui para o encorajamento das expectativas de inflação.
Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital, diz que o tom do comunicado pode ser interpretado como cautelosamente hawkish. Ainda acredito que o Fed manter juros altos pode atrapalhar o ciclo de queda de juros por aqui. Juros altos nos EUA podem fortalecer o dilar e iniciar a inflação, dificultando a redução da Selic.
Eventos como os enchentes no Rio Grande do Sul podem impulsionar a inflação de alimentos, dificultando a queda também, comentou.
Vinicius Romano, especialista em Renda Fixa da Suno Research, destaca outra mudança importante, que foi o fato de a autoridade monetária ter retirado o forward guide de seu comunicado, em função da elevação das incertezas e da sua busca de maior flexibilidade.
Para Tatiana Pinheiro, economista-chefe do Brasil da Galápagos Capital, houve surpresa na quantidade de votos a favor de manter o ritmo de 50 pontos base de corte, mas apesar dessa grande dissenso, o comunicado foi duro. O cenário externo foi definido como mais adverso, a atividade econômica local como mais forte que o esperado e a inflação subjacente acima da meta, listada.
Além disso, Tatiana destacou que a autoridade monetária lembrou a importância da adição fiscal para a política monetária. Por fim, de forma lacnica retirou o forward guide e a vinculação do ciclo ao balanço de risco, assumindo que as decisões futuras serão ditadas pelo objetivo de convergir para a meta de inflação. No penúltimo parágrafo explicitou que depende da evolução das expectativas de inflação e do cenário global.
Sobre esse dissenso, Marco Antonio Caruso, economista-chefe do Pic Pay, chamou a atenção para o fato de que o comunicado não trouxe nenhum argumento dos dissidentes. É claro que o melhor lugar para trazer essa discussão para Ata. Mesmo assim, chama a atenção não haver um contraponto sequer, além dos que já existiam no passado, como os de uma inflação corrente mais baixa, disse.
Para Caruso, isso vai alimentar a discussão do mercado sobre a possibilidade de que o futuro Comit, após a decisão do presidente Roberto Campos Neto, poder ser um Copom submetido a menos juros.
J Luis Cezrio, economista chefe da Asset 1, afirmou ser possível que os agentes considerem que a política monetária nos próximos anos passe a mirar um intervalo entre a meta e o teto da banda, o que faria com que as expectativas de inflação caminhassem em direção ao teto da meta (4,5%) ao longo do tempo. Se isso ocorrer, há risco de debate sobre adoo de uma meta de inflação mais elevada ressurgir em algum momento.
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