Política
Padilha diz que governo não tem propostas para mudar a meta da inflação
Ministro da articulação política afirma que há um debate amplo sobre a taxa de juros e ressaltou que pedido para presidente do Banco Central ir ao Congresso explicar suas decisões ‘não deve ser um tabu’
WALLACE MARTINS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
O ministro Alexandre Padilha durante coletiva de imprensa, realizada na cidade de Brasília, DF, nesta quinta-feira, 09
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), concedeu uma entrevista coletiva nesta quinta-feira, 9, e afirmou desconhecer qualquer debate no governo federal que envolva a mudança na meta de inflação. Segundo o petista, responsável pela articulação política do governo Lula 3, não houve tratativa a este respeito em nenhuma das reuniões entre ele e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. “Em nenhum momento isso foi trazido para mim”, disse após pontuar que o assunto sobre projeções inflacionárias diz respeito ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Atualmente, as metas de inflação projetadas para este ano são de 3,25% e de 3% em 2024 e 2025. Há uma tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Em entrevista à GloboNews, no dia 18 de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também criticou o panorama inflacionário da atual economia. Segundo o chefe do Executivo, quando se estabelece uma meta de inflação de 3,7%, é preciso “arrochar a economia” para atingir o resultado esperado. “Por que precisava fazer 3,7%? Por que não faz 4,5%, como fizemos [nos mandatos anteriores]? A economia brasileira precisa voltar a crescer”, declarou. De acordo com Padilha, a discussão sobre uma possível redução da taxa de juros “é um debate que empresários e parlamentares têm feito, por ser um esforço para que o Brasil não tenha uma taxa de juros tão elevada”, já que isso “atrapalha a geração de empregos”.
Além das declarações sobre a decisão do Banco Central de manter a taxa de juros em um patamar elevado, Padilha comentou sobre a possibilidade do presidente do BC ser convidado a ir ao Congresso Nacional dar explicações sobre a condução da política econômica pelo órgão. “Faz parte da democracia, faz parte da lei de independência do Banco Central prestar contas. O governo, quando quer conversar com o presidente do Banco Central, convida, dialoga. No mundo inteiro, as autoridades monetárias vão ao Congresso Nacional, vão para seminários, debatem publicamente. Acho que não deve ser nenhum tabu que qualquer parlamentar faça um convite ao presidente do Banco Central”, pontuou o petista. Segundo apurou o site da Jovem Pan, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), presidida pelo senador Otto Alencar (PSD-BA), deve chamar Campos Neto para prestar esclarecimentos após o Carnaval. A manifestação de Padilha ocorre após semanas de críticas de Lula a Roberto Campos Neto. Na mesma entrevista ao canal de notícias da TV paga, Lula apontou a falta de inflação por demanda e disse não ser possível que o país volte a crescer com a atual taxa de juros. “Eu acho que esse cidadão [Campos Neto], indicado pelo Senado, tenha possibilidade de maturar, de pensar e de saber como vai cuidar deste país”, completou.
Em outras manifestações públicas, o presidente considerou a decisão do Bacen em manter os juros em 13,75% como “uma vergonha”, e afirmou que não irá “pedir licença para governar”. “Não temos que tentar agradar ninguém, temos que agradar o povo brasileiro, que acreditou em um programa que nos trouxe até aqui e é esse programa que nós vamos cumprir”, completou. A fala, no entanto, não encontra respaldo entre os presidentes da Câmara e do Senado. Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que comanda a Casa Alta do legislativo, defendeu Campos Neto, a quem chamou de “homem preparado” e de “muito bom trato”, e afirmou que a independência do Bacen é um “avanço” por afastar “critérios políticos de algo que tem um aspecto técnico muito forte”. Arthur Lira (PP-AL) também seguiu linha semelhante e afirmou Eu tenho a escuta, a tendência do que a maioria do plenário pensa. Com relação à independência do Banco Central, esse assunto não retroagirá. O Banco Central independente é uma marca mundial, o Brasil precisa se inserir neste contexto”, pontuou.