Conecte-se conosco

Atualidades com Marcello Amorim

Política e governança – Quem te disse que a igreja quer governar o Brasil?

Publicado

em

Política e governança – Quem te disse que a igreja quer governar o Brasil?

A igreja quando nasceu, em sua maior parte vivia perseguida e de forma clandestina nos algares, antros, cavernas, cavidades, covas, covis, grutas e camadas inferior da capital do império, Roma. A massa de neoconversos diziam se sentirem seguras em declarar amor ao Nazareno em tumbas, ou melhor, catacumbas.

Nesta atmosfera, alguns séculos depois, em 325 d.C, o imperador romano Constantino I, também conhecido como Constantino, o Grande, que foi um imperador romano, proclamado Augusto pelas suas tropas em 25 de julho de 306, que governou uma porção crescente do Império Romano até a sua morte – Constantino derrotou os imperadores Magêncio e Licínio durante as guerras civis –, e, se converte ao cristianismo.

Fruto dessa suposta e contestada conversão entre os historiadores até hoje, 14 anos depois, em 311 d.C, o edito de tolerância decretado pelo imperador Galério pois fim a perseguição diocleciana no oriente, mas foi em 313 d.C com o decreto de Milão que a perseguição aos cristãos cessou em todos os demais lugares.

Uma nova fase da Igreja se iniciou, pois, o império passa a bancar a Igreja. Palácios eram doados para serem templos e os bispos, pontífices e sacerdotes, agora indicados pelo imperador passaram a ser bem remunerados pelo Estado.

Roma sendo manteve as religiões livres em suas fronteiras, e o cristianismo ganhava mais destaque por ser a religião do imperador. Aos poucos o cristianismo foi crescendo e se expandiu tanto que passou a ser a religião oficial do estado romano. A ‘Igreja Universal de Roma’ em seu significado mais pleno, e denominada entre nós de Igreja Católica Romana.

Até hoje a Igreja Católica existe em Roma e em quase uma centena de países, sendo no Brasil desde seu descobrimento, a maior igreja. Até em 1988 a igreja romana era a religião oficial do Brasil, a partir da Nova Constituinte ¹, perdeu essa prerrogativa.

A história deixa claro que essa união igreja e Estado houve muitas decorrências desastrosas e erros. Consequentemente, similarmente houve muitos abusos e igualmente muitas perseguições. Os relatos descritivos dos tempos registram que na idade média através da inquisição a igreja impunha e compelia as pessoas a se converterem. Foi uma época sombria da igreja cristã².

Com a Reforma Protestante, ou seja, o movimento religioso que aconteceu na Europa, século XVI, fomentado por razões políticas e religiosas – o movimento teve como principal líder Martinho Lutero, um monge alemão, que por meio de 95 teses fez várias críticas à Igreja Católica e ao Papa –, a união Estado-Igreja passou a ser demonizada, ainda que desde a reforma a Inglaterra mantenha em alguma medida essa união, o monarca é o líder da igreja (porém, com a corrente protestante). Com apoio do parlamento, por meio do Ato de Supremacia, de 1534, o rei criou a Igreja Anglicana. O anglicanismo passou a ser a religião oficial do povo inglês.

Os anglicanos acreditam na Santíssima Trindade e seguem, como todos os cristãos, as Sagradas Escrituras. Entre o catolicismo e o protestantismo, escolheram o caminho do meio. Dos católicos, pegaram a sua hierarquia de padres, bispos e arcebispos. Mas, como os protestantes, eles não aceitam a autoridade do papa.

No Brasil o Estado é laico, a nossa constituição defende a liberdade de expressão e de crença. Contudo, há quem confunda apoio da Igreja a candidatos com o que aconteceu no império romano. Baseado no passado, acham que a Igreja não pode nem deve se meter em política.

Lembre-se: não foi a igreja que se meteu em política no passado, mas foi o império, o Estado que se meteu na Igreja. A diferença é que a igreja das tumbas, algares e furnas não tinha emancipação e liberdade religiosa e muito menos de votos.

Estamos correndo um grande risco hoje quanto a nossa democracia, nossa liberdade. Sim, pois nosso regime de governo não é imperialista, autoritário, dominador ou como dizia os romanos: “jupiteriano”. Em nossa nação existe mandato de presidentes e esses, são eleitos sob um regime democrático. Nossas instituições são separadas, pois temos o Congresso Nacional com a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. Temos ainda o Supremo Tribunal Federal, que é o órgão de cúpula do Poder Judiciário, e a ele compete, principalmente, a guarda da Constituição, conforme definido no art. 102 da Constituição da República com 11 Ministros; além das Forças Armadas, que tem suas funções bem definidas de manter a paz e a ordem.

Sendo então, que a igreja no Brasil, mesmo vivendo a liberdade constitucional hoje, está sendo ameaçada por causa da sua doutrina e valores, por mentes aliciadas de imposições no calabouço, no ergástulo e masmorra do obscurantismo, do desconhecimento e da idiotice contra os princípios morais e padrões da família, sociedade e moralidade.

Para mais, qualquer afirmação de que a igreja quer governar o Brasil é engodo. É a argumentação evidente de incompreensão teológica, política, institucional, governamental e constitucional.

O Eterno nos quer amado e respeitando a governança civil, mas sabendo que tudo foi criado e permitido por Ele.³.


NOTAS:

¹ Constituição Federal de 1988, artigo 142
² Livro História Eclesiástica, Eusébio de Cesaréia
³ Livro Sagrado, Colossenses 1.15-17

Marcello Amorim