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Rússia: Ex-repórter condenado a 22 anos de prisão por traição
MOSCOU — Na segunda-feira, um tribunal de Moscou considerou um ex-jornalista culpado de traição e o sentenciou a 22 anos em uma prisão de segurança máxima, concluindo um julgamento que foi amplamente visto como politicamente motivado.
A sentença de Ivan Safronov está entre as medidas mais duras contra jornalistas independentes russos e críticos do Kremlin, que têm enfrentado crescente pressão nos últimos anos. Safronov trabalhou como repórter de defesa e espaço para o jornal Kommersant por uma década, antes de se tornar conselheiro do chefe da corporação espacial russa Roscosmos.
Safronov foi acusado de passar segredos militares para a inteligência tcheca e informações sobre os militares russos para um cidadão alemão. O ex-jornalista insistiu em sua inocência e argumentou que coletou todas as informações de fontes abertas no decorrer de seu trabalho e não fez nada de ilegal.
Muitos jornalistas russos e ativistas de direitos humanos pressionaram pela libertação de Safronov, sustentando que as autoridades podem querer se vingar por sua reportagem que expôs incidentes militares russos e acordos de armas obscuros.
Horas antes da decisão ser anunciada pelo Tribunal da Cidade de Moscou, 15 meios de comunicação russos independentes emitiram uma declaração conjunta exigindo a libertação de Safronov. “É óbvio para nós que a razão para perseguir Ivan Safronov não é ‘traição’, que não foi comprovada… ”, dizia o comunicado.
A União Europeia também pediu na segunda-feira às autoridades russas que retirem todas as acusações contra Safronov e “libertem-no sem quaisquer condições”, denunciando “repressões sistemáticas do regime contra o jornalismo independente”.
Safronov está sob custódia desde sua prisão em julho de 2020 em Moscou.
Ativistas de direitos humanos, jornalistas, cientistas e funcionários corporativos que enfrentaram acusações de traição na Rússia nos últimos anos tiveram dificuldade em se defender devido ao sigilo em torno de seus casos e à falta de acesso público à informação.
O pai de Safronov também trabalhou para o Kommersant, cobrindo questões militares depois de se aposentar das forças armadas. Em 2007, ele morreu depois de cair de uma janela de seu prédio em Moscou.
Os investigadores concluíram que ele se matou, mas alguns meios de comunicação russos questionaram a versão oficial, apontando sua intenção de publicar um relatório sensível sobre entregas secretas de armas ao Irã e à Síria.