Política
Segunda leva de ministros de Lula tem Alckmin em dupla função, irmã de Marielle e ‘Bessias’ da Lava Jato
Presidente eleito anunciou mais 16 nomes que vão compor o novo governo a partir de 2023
Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Jorge Messias, o famoso “Bessias” de áudio divulgado por Sergio Moro, será o ministro da AGU
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta quinta-feira, 22, os nomes de 16 ministros que formarão o novo governo petista a partir de janeiro do ano que vem. Eles se juntam aos cinco nomes que já haviam sido anunciados, restando agora 16 pastas a serem ocupadas. A presença de Geraldo Alckmin, que conciliará a Vice-Presidência e o Ministério da Indústria e Comércio, chamou a atenção. Já a senadora Simone Tebet (MDB-MT), que era cotada para assumir o Desenvolvimento Social, ficou de fora desta leva. Pesou o lobby do Partido dos Trabalhadores, que trabalhou para que uma possível adversária em 2026 não assumisse pasta tão importante. O senador Wellington Dias (PT-PI) foi o escolhido. A Educação também ficará nas mãos do PT. O ex-governador do Ceará Camilo Santana, que foi eleito para o Senado, será o responsável pelo ministério. A governadora cearense Izolda Cela, que deixou o PDT, era uma das candidatas, mas deverá se contentar com a Secretaria da Educação Básica. Apesar da predileção por um homem na Educação, seis mulheres ganharam ministérios: Nísia Trindade (Saúde), Esther Dweck (Gestão), Luciana Santos (Ciência e Tecnlogia), Cida Gonçalves (Mulher), Margareth Menezes (Cultura) e Anielle Franco (Igualdade Racial). Esta última é irmã da vereadora Marielle Franco, do PSOL, que foi assassinada em 2018 no Rio de Janeiro.
A ausência de Tebet simboliza a predominância do PT no anúncio desta quinta. Nenhum político dos partidos que se integraram a “frente ampla” do segundo turno foi contemplado. Lula, no entanto, deu a entender que haverá membros do MDB e PSD – e talvez do União Brasil – no próximo anúncio. “Queria que os ministros e as ministras ao montarem seu governo levassem em conta a pluralidade das pessoas que participaram da campanha, que cada pessoa tente montar governo colocando gente diversa, gente de outras força políticas que nos ajudaram, porque somente assim a gente vai contemplar o espectro de gente que participou dessa comissão de transição”, destacou o presidente eleito. Partidos que apoiaram Lula desde o inicio também querem ser atendidos. É o caso da Rede, que espera ver Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente.
Alexandre Padilha (Secretaria das Relações Institucionais)
Formado em medicina pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Padilha é membro do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores (PT) desde 1991 e atuou diretamente nas campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 1989 e 1994. Em 2004, o petista passou a exercer o primeiro cargo político como diretor de Saúde Indígena da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e, cinco anos depois, comandou a pasta com status ministerial da Secretaria de Relações Institucionais. Sob a gestão de Dilma Rousseff, atuou como ministro da Saúde e, após o impeachment da petista, foi alocado como secretário municipal de Saúde em São Paulo, na gestão de Fernando Haddad na capital paulista. Em 2019, elegeu-se deputado federal. A partir do próximo ano, voltará a exercer o cargo de ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais com o retorno de Lula à Presidência da República.
Anielle Franco (Igualdade Racial)
Formada em inglês e literaturas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e em jornalismo opela Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, Anielle ostenta também um mestrado em relações étnico-raciais pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ). Irmã da vereadora assassinada do Rio, Marielle Franco, a agora política publicou um livro em 2020 chamado “Cartas Para Marielle”, numa coletânea de entrevistas, lembranças e desabafos sobre o trágico episódio. “Em nome da memória da minha irmã e das mais de 115 milhões de pessoas negras no Brasil, que são maioria da população e que precisam de um governo que se preocupe com os seus direitos de bem viver, de oportunidades, com segurança, comida, educação, emprego, cultura, dignidade, encaro com orgulho e responsabilidade a missão de estar na Seppir em 2023, órgão que foi pleiteado e conquistado pelo movimento negro anos atrás e construído pela gestão do presidente Lula”, disse.
Camilo Santana (Educação)
Graduado em agronomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela mesma instituição, o engenheiro agrônomo foi secretário do Desenvolvimento Agrário e das Cidades nos governos de Cid Gomes. Eleito deputado estadual em 2011, Camilo venceu o pleito estadual e sagrou-se governador do Ceará em 2015. Nas eleições legislativas ocorridas em outurbo deste ano, Santana foi eleito senador. Ele passará a comandar a pasta da Educação à partir de 1º de janeiro de 2023. Também concorria à vaga a atual governadora do Ceará, Izolda Cela, que deixou o PDT. Lula preferiu deixar a pasta nas mãos do PT, mas Izolda fará, sim, parte do governo. Ela assumirá a Secretaria de Educação Básica.
Cida Gonçalves (Mulher)
Consultora em políticas públicas, a habitante de Campo Grande já atuou como secretária nacional do enfrentamento à violência contra mulher nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Especialista na área, Cida realiza workshops a governos estaduais e prefeituras para ceder informações e diretrizes sobre o atuação na área. Também coordenou o processo de articulação e fundação da Central dos Movimentos Populares no país.
Esther Dweck (Gestão)
Anunciada como ministra da Gestão, a economista é doutora com especialização em Indústrias e da Tecnologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) — instituição da qual já foi professora substituta e adjunta. Na Inglaterra, Esther cursou desenvolvimento econômico na Universidade de Cambridge. No âmbito político, Dweck atuou como assessora econômica e secretária de Orçamento Federal nos governos de Dilma Rousseff.
Jorge Messias (Advocacia-Geral da União)
Procurador, Jorge Messias, de 42 anos, foi indicado pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para chefiar a Advocacia-Geral da União a partir do ano que vem. Messias se formou em direito pela Universidade Federal do Recife, é mestre em desenvolvimento e cooperação internacional pela Universidade de Brasília, mas ficou mais conhecido durante sua passagem pelo governo de Dilma Rousseff. O procurador era subchefe para Assuntos Jurídicos da Presidência quando foi citado como “Bessias” em conversa grampeada pela Operação Lava Jato e divulgada pela então juiz Sergio Moro. No áudio, Dilma acertava com Lula os trâmites para o líder petista assumir a Casa Civil. “Eu estou mandando o ‘Bessias’ junto com o papel para gente ter ele. Só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?”, disse a presidente. O desfecho da conversa virou slogan da oposição durante o processo de impeachment, em 2016: “Tchau, querida”, despediu-se Lula, antes de desligar o telefone. O presidente eleito relembrou o episódio ao anunciar seu advogado-geral da União. “O companheiro era tratado de Jorge ‘Bessias’ aqui”, sorriu. Além da pasta de Assuntos Jurídicos, Messias ocupou cargos nos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia. Também foi procurador no Banco Central e no BNDES.
Luciana Santos (Ciência e Tecnologia)
Presidente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a política é filiada à silga desde 1987. Formada em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Pernambuco, Luciana iniciou sua vida na carreira política como deputada estadual em 1997, tendo sido eleita prefeita de Olinda na legislatura seguinte. A comunista foi nomeada secretária estadual de Ciência e Tecnologia e foi eleita para um cargo na Câmara dos Deputados. Em 2018, tornou-se a primeira mulher a ser eleita vice-governadora de Pernambuco.
Luiz Marinho (Trabalho)
Oriundo de Cosmorama, cidade localizada a 500 km da capital paulista, Marinho trilhou caminho semelhante ao do presidente eleito e ganhou destaque político no ABC paulista. Eleito tesoureiro no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em 1984, chegou a assumir a presidência do órgão. Em 2003, o sindicalista venceu a eleição para comandar a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e por lá permaneceu até 2005, quando foi convidado para assumir o Ministério do Trabalho. Dois anos depois, foi realocado para a pasta da Previdência Social e licenciou-se da chefia do ministério para concorrer à prefeitura de São Bernardo do Campo. Em 2020, Marinho foi derrotado por Orlando Morando (PSDB) para o comando do paço municipal em São Bernardo. Na última eleição, foi eleito deputado federal por São Paulo.
Márcio França (Portos e Aeroportos)
Filiado desde 1988 ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), França ingressou na vida política no ano seguinte à sua associação à sigla ao ser eleito vereador de São Vicente — cargo que exerceu até 1997. Ao sair da vida no Legislativo municipal, passou a ocupar o cargo de prefeito da mesma cidade, sendo reeleito quatro anos mais tarde. Em 2007, o advogado formado pela Universidade Católica de Santos foi eleito deputado federal e atuou como secretário do Esporte, Lazer e Turismo antes de assumir a secretaria de Desenvolvimento nas gestões de Geraldo Alckmin. Foi o 26º vice-governador do Estado de São Paulo, tendo assumido o cargo mais alto do Executivo estadual entre abril de 2018 e dezembro de 2019. Foi derrotado por João Doria (PSDB) na tentativa de seguir no comando do Palácio dos Bandeirantes e não obteve sucesso nas eleições para a prefeitura de São Paulo, em 2020, nem para o Senado, neste ano.
Márcio Macedo (Secretaria-Geral da Presidência da República)
Cotado para assumir a presidência do Partido dos Trabalhadores após o fim do mandato da atual mandatária, Gleisi Hoffmann (PT-PR), Macedo é natural da Bahia, mas cresceu politicamente em território sergipano. Lá, graduou-se em ciências biológicas pela Universidade Federal de Sergipe e concluiu um mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Após a carreir acadêmica, Macedo tornou-se presidente do Diretório Municipal do PT em Aracaju e posteriormente assumiu o comando da sigla em Sergipe. Na capital, passou pelo cargo de secretário de Desenvolvimento e Meio Ambiente e também foi secretário do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Estado. Eleito deputado federal em 2010, foi presidente da Comissão de Mudanças Climáticas do Congresso e assumiu o cargo de tesoureiro do PT após seu antecessor, João Vaccari Neto, ser preso pela Polícia Federal em decorrência das investigações da Operação Lava Jato.
Margareth Menezes (Cultura)
Cantora e compositora, a baiana tem em seu currículo 21 turnês mundiais, indicações ao Grammy Awards e ao Grammy Latino, dois troféus Caymmi, dois troféus Imprensa e quatro troféus Dodô e Osmar — concedido ao artista de maior repercussão ou música de maior sucesso no Carnaval de Salvador. Margareth é famosa pela interpretação da música “Faraó”, um dos grandes sucessos do Carnaval baiano. Em 2004, ela fundou a “Fábrica Cultural” que, em parceria com a Secretaria Municipal da Educação e Cultura, da Prefeitura de Salvador, capitaneou projetos de arte, cultura e educação na região.
Nísia Trindade (Saúde)
Primeira mulher da história a comandar a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia formou-se em ciências sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ) e concluiu seu mestrado e doutorado no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) — órgão vinculado a UERJ. Após ser eleita para chefiar a Fiocruz em 2017, Trindade foi a responsável pela criação do Observatório Covid-19, que realizou pesquisas e sistematizou dados epidemiológicos sobre a pandemia no Brasil e coordenou o acordo de transferência de tecnologia entre o Ministério da Saúde, a Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca para produção local de vacinas contra o coronavírus. Também será a primeira mulher a comandar a pasta da Saúde no âmbito federal.
Silvio Almeida (Direitos Humanos)
Professor universitário na Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o docente também é filósofo, escritor e presidente do Instituto Luiz Gama — organização que tem como objetivo lutar contra o preconceito e defesa das garantias fundamentais da população negra. Em 2020, Almeida foi convidado para ser professor visitante na Universidade Duke, nos Estados Unidos, para lecionar sobre “Raça e Direito na América Latina”. Após dois anos, um novo convite da Universidade de Columbia, também em território norte-americano, em Nova Iorque. É autor do livro “Racismo Estrutural”, um dos principais sobre o tema. Corintiano fanático, seu pai, Barbosinha, foi goleiro do clube nos anos 1960. O apelido deriva da semelhança do ex-jogador com Barbosa, arqueiro da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1950 e apontado na época como grande vilão da derrota para o Uruguai. “O apelido do meu pai era por conta de eles serem negros. E meu pai não herdou apenas o apelido, mas o estigma sobre os goleiros negros”, disse Almeida em entrevista ao SporTV, em 2020.
Wellington Dias (Desenvolvimento Social)
Nascido município de Oeiras, no Piauí, o político ingressou na graduação de letras portuguesas pela Universidade Federal do Piauí e cursou uma especialização em políticas públicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Após a carreira academica, atuou como bancário, sendo gerente do Banco do Nordeste, passando pelo Banco do Piauí e pela Caixa Econômica Federal. Vereador de Teresina em 1993, Dias também foi deputado estadual e federal. Entre 2003 e 2010 e 2015 a 2022, exerceu o cargo de governador do Piauí, sendo eleito senador pelo Estado na última eleição. A sua indicação é uma vitória da cúpula Partido dos Trabalhadores, que trabalhou para que a senadora Simone Tebet (MDB-MT) não assumise uma pasta de tando destaque, pois ela é vista como possível adversária da legenda na próxima eleição presidencial.