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Serra da Estrela perde 10% de Parque Natural em incêndio
Às portas da Serra da Estrela o som das sirenes dos bombeiros e dos helicópteros denunciam a urgência de entrar para salvar o que der. As chamas que desde sábado consomem o Parque Nacional devoraram já um décimo deste património natural português que integra a rede Geopark da UNESCO e estendem-se atualmente a cinco concelhos do centro do país.
O incêndio que deflagrou na Covilhã, tem agora frentes ativas também em Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira. No total, são cerca de 12 mil hectares reduzidos a cinzas numa área de terreno acidentado onde as encostas das montanhas castigadas pela seca ardem agora alimentadas pelo vento.
Com mais de mil operacionais no terreno a tentar controlar o fogo, ainda é cedo para fazer contas às perdas. O saldo a meio desta quinta-feira, revelou a Proteção Civil, era de 11 feridos ligeiros e 26 pessoas deslocadas.
Biodiversidade pode sofrer “perdas irreversíveis”
José Conde, biólogo do Centro Interpretação da Serra da Estrela, alertou, em declarações à agência Lusa, para os “danos enormes” que foram já provocados na biodiversidade local, onde se temem “perdas irreparáveis” entre as espécies autóctones e para o ecossistema.
Ressalvando que a avaliação no terreno ainda não foi feita, o especialista realçou que, face à extensão do incêndio, “todos os grupos de fauna e flora terão uma perda verdadeiramente severa”.
Pela área afetada, o processo de luto “será muito longo e penoso” e a recuperação lenta, alertando que “algumas perdas poderão ser mesmo irreparáveis porque altera-se o equilíbrio do ecossistema”.
“Houve vários habitats de maior importância ecológica que foram afetados, em particular, bosques de azinheiras, bosques de castanheiros, algumas áreas de carvalhais e ainda áreas de mato, nomeadamente caldoneirais”, formações arbustivas raras no país dominadas pela planta caldoneira, que são um habitat importante para várias comunidades de insetos, répteis e aves, frisou.
Para além da importância destes habitats para a conservação da flora, há “a lamentar uma perda correspondente ao nível da fauna, que é muito significativa, em particular algumas espécies mais raras, com distribuição mais local”, salientou.
De acordo com o biólogo, répteis como a víbora cornuda, o sardão, ou espécies de grilos e escaravelhos que apenas existem na Serra da Estrela, assim como pequenos carnívoros como as fuinhas e as ginetas terão sido afetados.
A fatura, ainda por apurar, permite já uma conclusão: “Estamos a falar de impactos transversais a todos os ecossistemas terrestres”.