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Atualidades com Marcello Amorim

Uma análise paradoxais das consequências e as causas do bloqueio do Telegram no Brasil

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Uma análise paradoxais das consequências e as causas do bloqueio do Telegram no Brasil

O Brasil toda semana tem uma história cinematográfica para analise social. Somente hoje vim descobrir que o Ministro do Supremo Alexandre de Moraes havia imposto multa sobre mim de R$ 100 mil por dia, desde sexta-feira (18) pelo uso do Telegram.

“As pessoas naturais e jurídicas que incorrerem em condutas no sentido de utilização de subterfúgios tecnológicos para continuidade das comunicações ocorridas pelo Telegram estarão sujeitas às sanções civis e criminais, na forma da Lei, além de multa diária de R$ 100.000,00 (cem mil reais) ”, diz trecho do despacho assinado pelo ministro.

Porque essa Plataforma estava cumprindo determinações judiciais? Porque quase sempre o ministro envolvido pelo envoltório, pelo capote, invólucro e toga, nessas polemicas é o ministro Alexandre de Moraes?

Para se entender as causas e consequências do bloqueio do Telegram no Brasil, é preciso saber o que motivou a decisão pelo bloqueio.

Em fevereiro passado, após ser ameaçado de um bloqueio de 48 horas também por Moraes, o aplicativo derrubou três perfis apontados como disseminadores de informações falsas, entre eles os do blogueiro Allan dos Santos, um dos aliados mais próximos da família Bolsonaro e investigado no inquérito das fake news.

A suspensão foi a pedido da Polícia Federal e vale até que o aplicativo cumpra determinações judiciais.

Especialistas em direito digital consideram “exagerada” a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que ordenou o bloqueio do aplicativo russo de mensagens, pois a ordem feriu um pouco o princípio da proporcionalidade, já que optou-se por uma decisão de grande repercussão nacional de modo monocrático [decisão individual do ministro]. A medida deveria ser discutida pelo colegiado da Corte, que já está a par desse tema.

Vemos também que o ministro Moraes se valeu da legislação sobre o marco civil da internet para fundamentar a decisão de maneira equivocada. O ministro tinha a opção de determinar outras medidas antes de ordenar o bloqueio do aplicativo, até por que, na nossa avaliação, a medida é desproporcional, porque prejudica milhões de usuários do Telegram, violando até mesmo preceito constitucional. Existem outras formas menos gravosas de a Justiça alcançar seu objetivo. Poderia, por exemplo, aplicar uma multa alta, arrestar bens. Apesar de o Telegram manter seus servidores nos Emirados Árabes.

Aqui convém explicitar que essa medida seria totalmente descabida mesmo se o bloqueio ao Telegram fosse integralmente legítimo, pois coloca o usuário comum quase na posição de réu, ignorando o fato de que a empresa responsável pelo aplicativo é que está sendo punida por desobediência, não o cidadão que faz download do software no celular, precisa dele para suas atividades cotidianas e nada tem a ver com o embrolho envolvendo o tribunal.

Por fim, diante do pedido de desculpas do fundador e CEO do Telegram, Pavel Durov, afirmando que houve “falha de comunicação” entre os endereços corporativos, reiterando a disposição da empresa em colaborar com as autoridades brasileiras.

Após o restabelecimento das funcionalidades do Telegram no país, porém, o precedente aberto pelo ministro pode levar a mais instabilidade jurídica envolvendo aplicativos de mensagens. O mais razoável seria que o plenário da Corte se manifestasse no sentido de corrigir excessos na decisão do ministro. Porém, com base no histórico de tudo o que envolve a relação do STF com influenciadores bolsonaristas|principalmente Alexandre de Moraes que além de jurista, magistrado é ex-político e não deixou essa paixão pela beca , esperar pelo melhor pode ser precipitado.

Esse é o temor das autoridades em relação ao Telegram, pois o aplicativo é visto como uma das principais preocupações para as eleições de 2022 devido à falta de controles na disseminação de fake news e se tornou também alvo de discussão no Congresso e no TSE para possíveis restrições em seu funcionamento no Brasil.

Amplamente usada pela militância bolsonarista, a ferramenta é hoje um dos desafios das autoridades brasileiras engajadas no combate à desinformação eleitoral, com pouca moderação e uma estrutura propícia à viralização. A ferramenta conta com grupos de 200 mil integrantes e canais com número ilimitado, caso de Bolsonaro.

Assim, querendo ou não, com o Telegram ou outros aplicativos, os paradoxos ainda vão existir por muito tempo enquanto até nos organizarmos em uma política de resultados do uso da internet em favor do interesse público.

Marcello Amorim