Política
Voto útil beneficia polarização, mas ‘sabota’ ideologia, avalia especialista
Segundo cientista, no clima de polarização, há um esvaziamento do centro político (Foto: Reprodução)
Em eleições extremamente polarizadas, como as deste ano, o temor que alguns eleitores têm com relação à possibilidade de vitória de um candidato rejeitado por eles pode levar ao emprego do voto útil (ou voto estratégico).
De acordo com especialistas, voto útil é aquele que é dado não ao candidato com o qual o eleitor mais se identifica, mas sim ao concorrente que tenha chances reais de evitar a vitória do adversário. Neste sentido, com o cenário eleitoral dividido entre apenas dois nomes, a rejeição de cada um dos candidatos passa a ter um peso na hora do voto.
Na avaliação do cientista político Breno Rodrigo Messias, são justamente os dois extremos da polarização os maiores beneficiados com o emprego do voto útil pelos eleitores.
“Quem perde são justamente o terceiro, quarto e quinto colocados. No clima de polarização, há um esvaziamento do centro político, representado pelo voto daquele eleitor mais engajado, aquele voto ideológico. É o voto que é direcionado para aquele candidato que não está no centro do radar eleitoral, mas que representa, de fato, os interesses daquele eleitor – como um candidato cristão ou o candidato que represente os interesses dos trabalhadores. Dentro deste espectro, o maior derrotado com o emprego do voto útil é, de fato, as candidaturas mais centristas ou as candidaturas que tenham uma envergadura ideológica, mas uma campanha frágil”, explica.
Além disso, Breno destaca o papel que as pesquisas eleitorais têm na formação e manutenção do cenário de polarização – o que acaba estimulando a adoção do voto útil, que, por sua vez, realimenta a divisão entre os dois candidatos mais bem posicionados – especialmente durante o primeiro turno.
“As pesquisas vão, de certa maneira, indicando o direcionamento da campanha. O eleitor observa a informação dos resultados das pesquisas e a partir disso ele pensa que, se votar em um candidato com baixa intenção de votos, o seu voto não valerá nada. Nesse sentido, o voto útil é empregado como forma de tentar eliminar o ‘mal maior’”, conclui.
Texto: Lucas Raposo
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